sexta-feira, 30 de junho de 2023

Detrás da prancheta #33 - Continuar fracassando?

Verdades não podem ser negadas. E como a gente bem sabe, algumas verdades machucam.

E a verdade é que eu sou um fracasso.

Calma, segure suas palavras encorajadoras ou sua raiva, deixa eu explicar.

Nunca tive sentimento de posse. Nunca almejei ter coisas que me fizessem parecer uma pessoa bem-sucedida, na verdade meu plano era apenas viver fazendo quadrinhos em uma casinha simples e confortável, ter alguns cachorros, talvez uma companheira, contas pagas, grana de emergência e grana para dar suporte para meus pais. Um cidadão comum como todos.

Não me tornei o quadrinista que pensei que poderia ser, não consegui engatar nenhum projeto, meus planos deram (ainda dão) errado e luto constantemente há meses contra ideias malignas de desistir de tudo que venho tentando há mais de quinze anos. Se já não bastasse eu me encarar na frente do espelho todo dia e sentir nojo e vergonha do que vejo, agora sei que parentes próximos, bem próximos, me acham um fracassado que passa todo o resto do dia a toa e, que por não ser alguém de valor, deveria ser invisível para que as pessoas próximas esquecessem da sua existência.

De fato acho que estou conseguindo isso, já que virei aquela pessoa que alguns amigos esquece que existe. Mas entendo eles, quem gosta de chamar gente que não tem grana para ajudar na despesa do churrasco, não é?

As pessoas próximas pensam que eu deveria largar os quadrinhos, elas acham que minha fobia social e raiva são frescuras. Gostaria mesmo que fosse, Deus do céu, como gostaria. Se pudesse eu teria largado os quadrinhos, só esse ano eu tentei três vezes, mesmo assim sem nenhum familiar ou amigo se importar com o que faço, mesmo com essa porcaria toda que me perturba todo santo dia, eu não consigo parar. Inconscientemente acabo voltando para a prancheta e quando dou por mim, já estou há horas rabiscando, como posso lutar contra minha natureza, né?

E quando olho para trás e penso nos meus fracassos, penso nas pessoas que me incentivam pela internet, os amigos que fiz pelo ciberespaço e que me mandaram um notebook quando o meu foi pro ralo e me possibilitaram continuar tentando, nas pessoas que me mandaram mensagem de madruga felizes por ter lido Paralelos e se sentirem acolhidas ou abraçadas de alguma forma pelo que leram, quando lembro das palavras da única pessoa que acreditou de verdade que eu poderia ser alguém na vida e que infelizmente não está mais entre nós, penso que talvez eu tenha umas vitórias nas costas, né?

Obviamente essas não são “coisas” que me fazem parecer bem-sucedido perante amigos e familiares, mesmo que eu quisesse falar para eles (coisas que eu nunca farei), acredito que não entenderiam ou achariam que é tudo mentira, de qualquer forma essas grandes vitórias foram feitas porque eu fiz quadrinhos, então talvez faça sentido eu continuar fracassando um pouco mais, hein?