segunda-feira, 15 de abril de 2024

Detrás da prancheta #38 - Cinco anos sem lasanha

Eu acredito que todos temos aquelas características dais quais nos orgulhamos, por mais que apenas nós conheçamos ela. No meu caso são poucas, uma delas em especial era a de sempre perseverar em silêncio, dar um passo de cada vez e superar obstáculos em batalhas silenciosas, muitas das vezes travadas altas horas da madrugada, me fazia se sentir um lutador pronto para o que viesse a seguir.


Mas de uns tempos para cá está cada vez mais difícil lidar com isso e sinto que essa característica está sumindo.


Não falarei mais uma vez sobre o quanto anda complicada a minha vida do lado de cá, há inúmeras postagens sobre isso, contudo, ultimamente tive (e de certa forma, estou tendo) de lidar com diversos problemas que consumiram todas as minhas energias. A cereja em cima do bolo foi perder um frila que salvaria uma parte do meu mês e isso contribuiu para que eu entrasse em um estado de inércia que vem atrapalhando minha produção.


Há dias, por exemplo, em que sento aqui na frente do computador, pronto para fazer meu trabalho e quando dou por mim já passaram-se cinco, seis horas e não fiz nada, para você ter ideia, há duas semanas que minha produção está praticamente parada, a única coisa que estou fazendo são as páginas do Vagner e isso porque elas estão sendo literalmente minha salvação, sem ele ter me arrumado esse trabalho eu estaria mais ferrado.


Mesmo assim estou indo em ritmo lento, o que não é nada profissional e decente para alguém que gostaria de trabalhar com quadrinhos, sinto até vergonha por isso, mas como eu disse, perseverar está cada vez mais difícil, exige cada vez mais e os boletos, doenças, dias sem almoçar, mazelas do dia a dia, até a menor das coisinhas que todo mundo tem de lidar no cotidiano, tornam-se coisas insuportáveis para minha cabeça.


Verdade seja dita, tem dias em que penso em ficar na cama, sabe? 


É isso, vou ficar aqui até o corpo morrer de vez, vou me mijar e se cagar aqui, não vou comer e nem beber água, se falarem comigo eu não vou responder nada, só murmurar e seguir em frente com meu plano suicida preguiçoso.” Mas não consigo, acabo levantando, mais por força do hábito do que por achar que não posso desistir. 


Há momentos, bem quando eu estou na frente do forno da padaria, olhando meu reflexo naquele vidro quente e escuro, penso que, apesar de amar fazer quadrinhos e não conseguir viver sem desenhar, eu deveria aceitar que não vou ter sucesso (financeiro) na área, que talvez eu não tenha talento como achei que tinha, que minhas histórias não são boas como eu acreditava que poderiam ser, nessas horas eu começo a enumerar mentalmente o que eu sei fazer além de desenhar.


Nada. E é isso que eu sou então.


Na verdade eu também sou um bom ouvinte, acredite se quiser, mas divago.


Você pode até me achar patético, chato, ok, eu mesmo já vi outros artistas reclamando e descendo o sarrafo em quem se comporta assim como eu estou fazendo, parece que na cartilha dos artistas bem-sucedidos não é tolerável sofrer e reclamar sobre isso, mas que se foda também, eu não sou bem-sucedido, não sou nem um artista de verdade, mas… Mas o quê?

Não sei o que escrever daqui em diante, agora são 01:55, está chuviscando, há umas quinze horas um dos meus cachorros morreu e tudo que eu queria agora era um pedaço bem grande de lasanha com cerveja, acabo de lembrar que faz uns cinco anos que não como lasanha.