Nesse exato momento é dia 09 de outubro de 2025, embora o seu calendário digital mostre o contrário. Hoje eu estaria aproveitando uma bela tarde, caso eu não estivesse dentro de uma máquina de ressonância magnética descobrindo que sou claustrofóbico.
Nesse momento estou lutando como um louco para não apertar o botão que interrompe o procedimento e faz com que o operador me tire desse monstro frio e barulhento.
Mas para passar o tempo mais rápido, vou fingir que estou em casa em uma madrugada de quarta, lá pelo dia 27, eu acho. Então, por favor, fique aí e me faça companhia, tudo bem?
Eu finjo que está quente e abafado o quarto onde trabalho, o estado natural desse ambiente escuro e insalubre. Apesar de ter sido há vários dias que fui engolido pela máquina de ressonância magnética, ainda tenho pesadelos e, ao fechar os olhos, continuo enxergando a superfície branca e lisa do monstro barulhento em que me encontro agora. Eu estou digitando o próximo Detrás da Prancheta enquanto beberico um gole de café frio e amargo. Começo a dividir o texto por partes.
Atura Camuirá
Aqui eu estou escrevendo sobre o motivo de ainda não ter feito o último capítulo dessa saga. Eu escrevo alguma coisa sobre a minha vida está complicada, como sempre, né? Digo, se eu tivesse indo bem eu não estaria dentro de uma máquina como essa, né? E falo sobre como ultimamente só ando ocupado com freelas e caçando freelas.
Você achou meio vago? Desculpa, mas mesmo com o abafador de som, ainda escuto o barulho dessa máquina infernal, então não consigo pensar com muitos detalhes sobre essa tentativa de fuga de um ataque de pânico.
O computador
Agora eu escrevo sobre como o meu computador está quase pifando de vez e sobre como isso vai me ferrar bonito, já que ele é meu ganha pão e não tenho como comprar outro no momento. Merda… Desculpa. Me dê só um segundo, tá bom?
É que eu fiquei com vontade de chorar, meu peito tá ardendo e minha cabeça tá uma bagunça, acho que estou suando mesmo dentro dessa sala climatizada. Não, não estou querendo chorar por causa do computador, deve ser o pânico.
Ainda sobre freelas…
Agora estou escrevendo sobre como tenho passado muito tempo procurando freelas e menciono um calote que levei. Escrevo muitos xingamentos e depois apago, pois alguém poderia condenar e achar essa conduta algo muito antiprofissional. Então volto atrás e escrevo “que se foda.”
Opa! Você ouviu isso? Um barulho diferente, talvez esteja acabando… Sim, está acabando! Ele chamou meu nome, você ouviu o meu nome? Pois é, todo mundo acha que é Evaristo mesmo, hahaha, só não espalha por aí. Um dia, quando eu ficar famoso e rico com quadrinhos, não quero que algum fã maluco me persiga e--- Ei, por que você está rindo desse jeito? Ei! EI!
Ah! A máquina finalmente está me “vomitando." Estou sorrindo e o operador parece outra pessoa, será que o pânico afetou minha percepção? Minha mãe me olha de modo estranho e diz que estou pálido. Tudo bem, o pior passou e eu nunca mais quero entrar nessa maldita máquina e nunca mais usar uma bata que deixe minha bunda exposta.
Obrigado por me fazer companhia, não olhe para as minhas costas enquanto saio dessa sala, e inté!

